Já viu Chester vivo? É igual peru? É transgênico, sem cabeça? Veja o bicho!
- 26 de dezembro de 2019
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Chester é uma marca de frango da Perdigão. Durante anos, a ave foi cercada de mistério. Ela é maior e tem mais peito por causa de cruzamento de linhagens de frango e especialista diz que não é usado hormônio para o crescimento da ave
Ele é popular na ceia de Natal dos brasileiros, mas muito mistério ronda sua origem antes de chegar à mesa. Por questões de mercado, a Perdigão costumava restringir bastante as informações disponíveis sobre “ele”. A única foto oficial do animal vivo, por exemplo, é a que ilustra esta reportagem. Durante anos, a empresa não divulgava imagem alguma. Isso fez surgir uma série de mitos sobre ele, o Chester. Alguns adjetivos atribuídos a ele na internet: “transgênico”, “monstro”, “aberração”. Algumas explicações mais complexas que circularam: “pseudo animais em tubos enormes cheios de líquidos semelhantes a placenta”, “bicho sem alma, sem coração… e sem cabeça”, galo com “quase 1 metro de altura”, “ave ‘doente’, com problemas mentais, que come 24 horas”.
O Chester®, na verdade, é uma marca registrada (por isso esse “R” ao lado do nome). Trata-se de um frango maior que o convencional. É diferente do peru, que também é uma ave, mas de outra espécie. A ave foi lançada oficialmente no mercado brasileiro em 1982.
Afinal, chester é um bicho?
Chester é um animal, mas não é uma espécie diferente de ave, como o peru ou o avestruz, por exemplo. É a mesma espécie que o frango convencional.
Elsio Figueiredo, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), afirmou ao UOL, em entrevista em 2015, que é como o cachorro: existe o poodle e o pastor alemão; eles são diferentes, mas ambos são cães, da mesma espécie.
Ave foi criada em laboratório?
Em 1979, a Perdigão enviou dois técnicos aos EUA em busca de duas linhagens, uma de frango e outra de peru, segundo Armando João Dalla Costa, professor do Departamento de Economia da UFPR (Universidade Federal do Paraná). O objetivo era diversificar os produtos e disputar mercado com o peru da Sadia. Na época, as duas empresas eram concorrentes; hoje, ambas pertencem à BRF.
De acordo com a Perdigão, foram feitos vários cruzamentos entre frangos com características específicas até se chegar a uma linhagem maior, com mais peito.
“[Foi feito] a partir da seleção de diferentes linhagens de frango, com a finalidade de criar uma ave com alto rendimento do peito, parte mais nobre do animal”, informou a empresa, por meio da assessoria de imprensa, em mensagem ao UOL.
O Chester tem 70% da carne concentrada no peito e nas coxas, segundo a fabricante. Seu nome vem de “chest”, que significa peito em inglês.
Ele é transgênico?
O Chester foi criado por meio de melhoramento genético. O uso dessa técnica é muito comum na indústria de alimentos, segundo o pesquisador da Embrapa.
O melhoramento genético é empregado pelo homem há mais de 10 mil anos, desde o início da agricultura, e funciona da seguinte forma: são selecionados para cruzamento os animais ou plantas com as características desejadas — por exemplo, maior resistência a doenças, maior produção de carne etc..
A ideia é transmitir essas qualidades aos descendentes, criando uma “versão melhorada” da mesma espécie. Por exemplo, plantas mais resistentes à seca, vacas que produzem mais leite ou… frangos com mais peito.
No melhoramento, a mudança acontece por meio do cruzamento entre membros da mesma espécie ou de espécies compatíveis. É diferente do transgênico, quando a modificação no código genético precisa ser feita por meio de intervenção em laboratório.
É cheio de hormônios?
De acordo com o pesquisador da Embrapa, não são usados hormônios para crescimento do Chester nem das outras aves que consumimos. Primeiramente, porque o uso é proibido pelo Ministério da Agricultura desde 2004.
Além disso, segundo ele, “não tem sentido”, porque os animais são abatidos antes do tempo necessário para que as substâncias comecem a fazer efeito. Também tornaria a criação muito cara e não compensaria.
Segundo a Perdigão, a alimentação do Chester é 100% natural, baseada em milho e soja, sem “adição de qualquer tipo de medicamento, antibiótico ou hormônio anabolizante para aumentar o seu crescimento e desenvolvimento”.
A marca afirma que a ave é abatida com maior peso e depois de mais tempo do que o frango convencional. O tempo de criação ao abate é, em média, de 60 dias. Ela também é criada em granjas com maior espaço para seu crescimento.
Os animais sofrem?
Um mito comum a respeito do Chester é que, por ter o peito muito grande, o animal sofre durante a vida e não consegue nem andar.
Elsio Figueiredo afirma que o cruzamento de diferentes tipos de frango pode, sim, gerar anomalias e levar ao sofrimento do animal. Porém, segundo ele, os próprios produtores teriam interesse em evitar isso: um animal que não consegue andar direito tende a comer e beber pouca água, prejudicando seu crescimento e desenvolvimento, o que causaria prejuízo.
Concorrentes do frangão
Outras marcas brasileiras vendem equivalentes ao Chester® com outros nomes, normalmente chamados de aves natalinas ou frango especial. É o caso do Fiesta, da Seara, e do Supreme, da Sadia.