Vencida a segunda denúncia, o que esperar da reta final do governo Temer?
- 26 de outubro de 2017
- comments
- Portal de Notícias
- Postado em Brasil
- 0
Passados mais de cinco meses desde que estourou sobre o Planalto a bomba da delação da JBS, o presidente Michel Temer conseguiu na quarta-feira enterrar a segunda denúncia que ameaçava tirá-lo do cargo, embora com um placar um pouco menos favorável do que na primeira. Foram 251 votos contra a denúncia, ou seja, pouco menos da maioria simples (257 deputados). A oposição no entanto, conseguiu apenas 233 votos favoráveis à possibilidade de um julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF), resultado longe dos 342 necessários Firme na cadeira de presidente, mas com uma base já não tão forte, Temer agora vai retomar seus esforços reformistas tendo pela frente outro importante obstáculo – a proximidade cada vez maior das eleições de 2018. Sua maior prioridade agora é aprovar a polêmica reforma da previdência, que o governo argumenta ser essencial para equilibrar o rombo nas contas públicas. Ouvidos pela BBC Brasil, parlamentares, analistas políticos e empresários consideram a tarefa difícil na medida em que cai a disposição de deputados e senadores em se indispor com o eleitorado que vai às urnas no próximo ano.
A expectativa é que seja aprovada uma versão mais modesta da proposta que vinha sendo debatida até a constrangedora conversa entre Temer e o empresário Joesley Batista, gravada tarde na noite no dia 17 de maio, a portas fechadas no Palácio do Jaburu.
No cenário ideal do governo, a reforma será aprovada em novembro na Câmara dos Deputados e até março no Senado. Depois disso, a fervura eleitoral tende a inviabilizar qualquer pauta mais sensível, reconhecem políticos da base.
Após a votação de ontem, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, admitiu que o projeto aprovado no início de maio na comissão especial – que já havia sofrido alterações em relação à proposta inicial do governo – deve passar por mais mudanças no plenário da Casa.
“Claro que vamos precisar reduzir o tamanho da reforma. Vai ser difícil (aprovar), mas mais difícil vai ser entrar 2018 num incêndio fiscal”, argumentou Maia.
“Mesmo que se vote esse ano (na Câmara), não será suficiente para o que o Brasil precisa”, reconheceu também o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
‘Proposta justa’
Um dos pontos alvos de disputa, por exemplo, é a adoção de uma idade mínima para aposentadoria, que o governo pretendia fixar em 65 anos para homens e mulheres. Na comissão, a exigência baixou para 62 no caso das mulheres.
No plenário, outro aliado de Temer, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SD-SP), mais conhecido como Paulinho da Força, quer que a idade mínima caia para 60 anos para homens e 58 anos para mulheres. Defende também regras de transição mais suaves.
“Se o governo fizer uma proposta justa (para a previdência), acho que é possível aprovar. Eu topo até ajudar. Agora, se for essa que está aí, não consegue aprovar, não. Entrando ano eleitoral, nenhum deputado é maluco de se enterrar junto com o governo”, prevê Paulinho.
O governo, por sua vez, defende que fixar uma idade mínima mais alta é uma medida justa, com impacto sobre os trabalhadores de maior renda que hoje, na sua maioria, se aposentam cedo, por tempo de contribuição.
Um dos principais aliados do presidente, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) diz que a idade mínima e o “fim dos privilégios de servidores públicos” (acabar com aposentadoria com valor integral e a paridade com servidores da ativa) são pontos de que o governo não abrirá mão. Apesar de Temer contar com apenas 3% de aprovação em pesquisas de opinião, o deputado sustenta que o governo conta com outro tipo de apoio para conseguir aprovar a reforma.
“O governo não tem popularidade, mas tem as forças produtivas, tem a base política (no Congresso), tem a maioria da imprensa, tem as elites, que ajudam”, ressaltou.
Apesar da confiança do governo na força do empresariado, José Augusto Fernandes, diretor de políticas e estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra-se pouco confiante com a aprovação da reforma. À BBC Brasil, ele disse que o setor está mais otimista com mudanças que exijam apenas maioria simples dos parlamentares (alterações na previdência, por mexerem na Constituição, demandam três quintos dos votos no Congresso).