VAMOS FALAR UM POUCO SOBRE O CEMITÉRIO?
- 2 de agosto de 2020
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A área ocupada pelo cemitério “São José” – único em atividade em Castilho atualmente, foi declarada de interesse público para desapropriação ‘amigável ou não’ em dezembro de 1957 (Lei Municipal 058/57, disponível no site da Câmara e facilmente encontrada por quem tiver interesse) pelo então prefeito municipal Antônio Brito.
Desde então, os registros legais tornam-se imprecisos sobre o cemitério. Pela minha experiência na análise de leis, calculo que seus 30mil metros quadrados de área (200x150m) começaram a receber sepultamentos já no ano seguinte, enquanto a Prefeitura permanecia envolta no processo de desapropriação que, aparentemente, não foi nada amigável.
Esta minha análise é corroborada por outro documento disponível no site da Câmara: a Lei Municipal 561/82, que no dia 13 de abril de 1982 (25 anos após terem se iniciado os sepultamentos) autorizou o então prefeito José Jorge Zahr a receber o terreno de exatamente 30.733,82 metros quadrados como DOAÇÃO sem custos adicionais (exceto as despesas relacionadas ao registro de transferência de posse e escritura) feita pelos sucessores de “Tufi Patah” onde o cemitério já estava em atividade (confira o Art. 1º da referida Lei).
Além destas menções legais, apesar de eu não conseguir acessar meu banco de dados pessoais (devido a problemas de incompatibilidade entre as unidades de armazenamento e computadores), lembro claramente que em seu segundo mandato como prefeito de Castilho, Joni Buzachero reconheceu a necessidade de ampliação do campo santo, mas optou pela construção de um “Ossuário” com capacidade superior a 660 gavetas onde podem ser depositados os restos mortais de túmulos familiares, cedendo espaço a novos sepultamentos.
Não tive tempo de ir pessoalmente ao cemitério conferir a data da obra (isso se houver alguma placa indicativa na mesma), mas tenho certeza quanto ao número mínimo de gavetas, já que naquela época, o prefeito decidiu “pular” a gaveta Nº 666 por questões ligadas às crenças religiosas de que o número está diretamente relacionado ao ‘pai de todos os males’. Portanto, o número exato de gavetas é de 666 ou pouco mais do que isso.
A construção do Ossuário por si só já revela que, entre 2004 e 2008, a quantidade de espaço disponível no Cemitério “São José” já era motivo de preocupação para as autoridades políticas locais. O Ossuário então, nada mais foi do que uma medida “meia-boca” que resolvia o problema temporariamente, deixando a ‘bomba’ nas mãos de um próximo Administrador municipal.
Apesar dos milhares de castilhenses ali sepultados ao longo destes 62 anos de atividade, fora os casos já mencionados, não encontrei nenhuma outra Lei Municipal relacionada a possíveis ampliações do Cemitério “São José”, EXCETO A LEI Nº 2.852, aprovada pela atual Câmara de Vereadores NO DIA 19 DE DEZEMBRO DO ANO PASSADO.
Esta Lei foi aprovada pela unanimidade de votos dos vereadores (nenhum dos 10 faltou à sessão, se absteve ou votou contrário; o presidente só vota em caso de empate) e assim como as outras mencionadas neste artigo, está disponível para quem quiser saber no próprio site da Câmara.
A área é, de fato, um remanescente de área verde que a Prefeitura havia deixado para viabilizar novos projetos habitacionais que surgissem após a entrega das moradias do Conjunto Alípio Aparecido de Oliveira. Portanto, a área está ali, quase ‘ociosa’, há décadas.
Exatamente há algumas décadas, o PM Ambiental reformado Nelson Antunes, decidiu “adotar” parte desta área, plantando diversas espécies de árvores nativas, flores e outras plantas para evitar que moradores das proximidades continuassem utilizando o espaço para descarte irregular de lixo doméstico, animais mortos, móveis inutilizados, restos de limpeza dos quintais e de construção.
Além dele, jovens e adultos da vizinhança, utilizaram o amplo espaço por algum tempo para disputar partidas amistosas de futebol, mas há tempos que não se tem notícia da realização destas “peladas” no local.
Parte da área também serviu como depósito irregular de veículos inutilizados (ferro velho), o que motivou a Prefeitura de Castilho a criar uma severa lei que autoriza o Município a recolher (após as devidas advertências e prazos para adequação) tais veículos abandonados em áreas públicas urbanas, multando os responsáveis pela infração. Vale lembrar que tal lei existe em Castilho muito antes de Andradina adotar iniciativa semelhante. A diferença é que lá, na Terra do Rei do Gado, ela é cumprida graças à Atividade Delegada e à ação ‘eficiente’ dos próprios Fiscais de Postura andradinenses. Enquanto no Paraíso do Pescador, tal Lei nunca saiu do papel.
Após colocar os pingos nos “is”, voltemos ao tema central deste artigo. Quando a Câmara aprovou a Lei Nº 2852, Fátima deixou claro – e os vereadores entenderam, que “o atual Cemitério já chegou em seu limite e, por isso, [é] necessário [a adoção de] providências urgentes para a área”!
Portanto, é difícil entender porque tanta polêmica a respeito de um assunto que já poderia ter sido resolvido antes de 2008. A ideia do Ossuário foi uma saída criativa e eficiente? Evidente que sim! Mas ela já nasceu com o próprio “ATESTADO DE ÓBITO” pronto e apenas adiaria a necessidade de ampliar o Cemitério para um período futuro.
É possível construir um novo Ossuário dentro do Cemitério atual? Isso eu não posso responder com 100% de certeza, mas acredito que, se houvesse essa possibilidade sem ter que sacrificar árvores, ruas internas e os espaços religiosos do cemitério, isso já teria sido feito. Mas, ainda assim, seria apenas mais um adiamento do inevitável.
Este assunto deveria ter surgido nas redes sociais antes que o projeto de lei fosse aprovado, mas acompanhado de “soluções práticas e duradouras” para o problema. E é isso que não aconteceu em Castilho naquela época e continua sem acontecer agora. Tanto neste, quanto em muitos outros assuntos.
O que mais se lê pelas redes sociais são “achismos”:
- acho que deveria respeitar a área de lazer (e a pessoa nunca viu ninguém usando a área para lazer…);
- acho que a Prefeitura deveria usar um de seus muitos terrenos pra criar um novo Cemitério em outra área (Onde? Qual impacto desta decisão sobre os valores das áreas no entorno? Qual área urbana de Castilho abrigaria um novo cemitério sem gerar centenas de reclamações de “A” ou “B” de que ele ficou muito ‘fora de mão’, longe demais, perto demais, ou prejudicou o valor venal de áreas próximas? Se for necessário adquirir nova área, qual será o custo disso?);
- se for ocupar uma área de lazer, privará ainda mais os moradores das já escassas opções de entretenimento (Certeza absoluta disso? Por quantas pessoas e com qual frequência esta área é utilizada? Quantos outros espaços de lazer existem naquelas proximidades?)
- a ampliação do Cemitério acabará com o ‘bosque do Seo Nelson’ (E quem foi que disse que pra ampliar o cemitério é necessário eliminar tudo que estiver dentro da nova área do mesmo? Desde quando o projeto não pode ser reformulado e adaptado para possibilitar o uso compartilhado deste belo bosque tanto pelas comunidades do entorno quanto daqueles que irão visitar seus entes queridos no mesmo espaço?)
- as residências próximas perderão seu valor de mercado (Sério? Porquê então não existe uma das maiores ofertas de casas para alugar nestas áreas atualmente? E por que um hotel de considerável porte decidiu se instalar praticamente ao lado do cemitério atual?)
Enfim, o cidadão castilhense precisa exercitar o cérebro e raciocinar sobre assuntos que influenciam no dia a dia de nossa cidade sem paixões políticas e interesses próprios. Se eu, com uma carga extrema de trabalho diário na redação do que acontece em várias cidades da região, consegui dedicar uma hora do meu tempo para pesquisar sobre esse assunto, o que impede aqueles que realmente querem o bem e o progresso de nossa cidade de fazer o mesmo?
Portanto, vamos à lição de casa: menos “achismos” e mais pesquisa; menos tempo de jogos online e menos tempo ainda perdido em discussões de assuntos que você não se deu ao trabalho de refletir corretamente e apenas aproveitou a “onda” pra se manter em evidência; menos crítica e mais propostas; mais exemplos e menos dedos apontados (até porquê, ao apontar o indicador para alguém, três outros dedos de sua mão estarão apontados diretamente pra você).
Finalizando, pense nisso como um guia prático pra demonstrar que seu interesse por Castilho é realmente genuíno. E, de quebra, você estará me ajudando barbaridade, garantindo mais tempo pro meu lazer ao invés de realizar as pesquisas que você poderia ter feito com a maior facilidade do mundo e evitando constrangimentos desnecessários.
- Marco Apolinário – Chefe de Redação do JPN