Considerado uma das maiores autoridades sobre os efeitos de drogas lícitas e ilícitas no cérebro, o neurocientista americano Carl Hart criticou a proposta de internação compulsória de usuários que frequentam a Cracolândia, em São Paulo. Para ele, a internação compulsória afronta direitos humanos.
Professor da universidade de Columbia (Nova Iorque) pesquisando o assunto há mais de 20 anos, Hart já visitou seis vezes a Cracolândia. Ele disse que na sua última visita à região, nesta quarta-feira (13) o mau cheiro estava pior do que em outras ocasiões, problema que ele atribuiu ao fim do programa municipal que oferecia vagas em hotéis para usuários.
O pesquisador criticou ainda o uso do termo Cracolândia, que para ele, cria um estigma sobre a região e tira o foco sobre os reais problemas do usuários, que são sociais, e não a droga.
Questionada sobre as críticas do neurocientista, a Prefeitura afirmou que “o secretario [municipal de Assitência e Desenvolvimento Social, Filipe Sabará] tem certeza que se Carl Hart for bem informado, vai aprovar e apoiar o programa atual, que é muito superior ao anterior e bem alinhado com as propostas do professor”. A pasta não respondeu diretamente sobre a posição de Hart a respeito da internação compulsória, mas, em relação às condições de higiene da região, afirmou que neste ano foram inaugurados 3 unidades ‘Atende’, que contribuem tanto com a redução de danos como com a higiene na região
O professor conversou com jornalistas antes de um evento promovido pelo coletivo Movimentos, criado na favela da Maré, em uma casa de cultura no centro de São Paulo. Quando o professor de Columbia se posicionou para sua palestra, foi ovacionado pelas mais de cem pessoas que se aglomeravam no pequeno espaço para ouvi-lo.
Criado em um bairro pobre de Miami, Hart se envolveu com drogas na juventude, até obter o PhD em neurociências pela universidade de Wyoming e passar a pesquisar, há mais de 20 anos, os efeitos do uso de drogas lícitas e ilícitas no cérebro de ratos de laboratório, e mais recentemente, em seres humanos. Em uma pesquisa, ele oferecia crack e metanfetamina a usuários cotidianos de drogas, que podiam escolher entre uma dose ou U$ 20 após uma primeira dose. O resultado, exposto em seu livro Um preço muito alto mostrou que todos optavam pelo dinheiro, que só seria entregue ao final do estudo.
R7
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