Europa perde rastro de 28 menores por dia após travessia do Mediterrâneo
- 10 de julho de 2017
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De acordo com a ONG Oxfam, semanas depois, a maioria dos jovens reaparece nas principais capitais da Europa, em condições de extrema precariedade; somente na França, há 10 mil imigrantes menores de idade, isolados, sem família ou responsável
PARIS – Aboubakar Ali deixou o Chade, país de 14 milhões de habitantes na África Subsaariana, há sete meses. Sua família havia retornado ao país natal, deixando a Nigéria em fuga das atrocidades do grupo terrorista Boko Haram. Aos 16 anos, Abou não aceitou voltar e decidiu partir.
De acordo com a ONG Oxfam, que presta auxílio a imigrantes em toda a União Europeia, entre 100 crianças ou adolescentes imigrantes que chegam à Europa, 28 desaparecem por dia na Itália, a porta de entrada para 85% dos imigrantes, em meio ao caos da chegada. Semanas depois, a maioria dos jovens reaparece nas principais capitais da Europa, em condições de extrema precariedade. Abou colocou uma muda de roupas em dezembro em uma mochila e, sem dinheiro, foi para a Europa – sem avisar os pais. A opção lhe custou caro: foi detido por 15 dias e torturado na Líbia, onde passou fome e sede antes de obter um lugar em um bote inflável, no qual atravessou o Mediterrâneo há três meses. Na Itália, perdeu o lugar em um centro de acolhimento e, até a sexta-feira, vivia sob um viaduto do bairro popular Porte de la Chapelle, em Paris. Na rua, alimenta-se quando pode e vive a expectativa de um sonho pouco realista: o de se fixar na Inglaterra. Abou é um dos cerca de 10 mil jovens imigrantes, menores de idade e isolados, sem família ou responsável, que vagam pela França. Outras dezenas de milhares, a maioria originária de países subsaarianos em guerra, sob a ameaça terrorista ou em situação de pobreza extrema, como Chade, Sudão ou Níger, estão em situação semelhante nas principais cidades da Itália, da Espanha ou da Alemanha.
Em geral, estão à espera de uma oportunidade em um centro de acolhimento ou da realização de um desejo distante: o de estudar, trabalhar e integrar-se na Europa. Segundo a Organização Internacional para Imigrações (OIM), em 2016, 25 mil crianças e adolescentes fizeram a travessia do Mediterrâneo – duas vezes mais que em 2015. Pesquisa da Unicef mostra que 75% deles enfrentam humilhações, agressões, assédio ou violência ao longo do caminho.
Depois de enfrentar o risco da travessia pelo mar – onde 4,5 mil pessoas morreram no ano passado, das quais 700 crianças e adolescentes –, continuam sujeitos às redes de tráfico de seres humanos, à exploração e, mais uma vez, à violência, até mesmo sexual.
Abou conhece os riscos. No Mediterrâneo, só sobreviveu porque o bote de plástico lotado foi resgatado por um barco de uma ONG alemã. “Fomos levados para um centro de imigrantes na Itália. Um dia, saí e acabei me perdendo durante dois dias. Ao voltar, me disseram que não tinha mais lugar, que agora era livre e poderia ir para onde eu quisesse.”
Desde então, vaga pela Europa, sem documentos, sem dinheiro, sem roupas ou alimentação regular. Vive da ação de ONGs e da generosidade de voluntários do lado de fora de um centro de acolhimento no norte de Paris – de onde cerca de 1,5 mil pessoas foram retiradas na sexta-feira para centros de acolhimento no interior da França.
“Eles me ofereceram um local em um centro de acolhimento, mas eu não quis ir. O problema é que não tenho dinheiro. Sei que não é fácil, mas não quero ficar na França, porque quero ir para a Inglaterra”, diz o jovem